COP29: CNseg coloca seguros no radar da transição climática

COP29: CNseg coloca seguros no radar da transição climática

Em Baku, CNseg firma parcerias com UNEP FI e Atlantic Council para ter iniciativas do mercado segurador reconhecidas, replicadas e divulgadas mundialmente.

Por: Carla Simões

O mantra de seguros para tudo e para todos da CNseg atravessou desta vez o Atlântico e se instalou em Baku, no Azerbaijão, para reverberá-lo durante as discussões na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP29), realizada de 11 a 22 de novembro. “Ou participamos dessas discussões globais ou o mercado segurador (doméstico ou global) continuará a ser negligenciado entre as soluções para mitigar os extremos climáticos, frustrando o potencial de negócios endereçado às seguradoras em virtude das mudanças climáticas”, afirmou o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira.

 

É a segunda vez seguida que a CNseg participa de uma COP (a anterior foi a 28º, em Dubai) para, a partir desses debates, redesenhar o mapa dos riscos climáticos brasileiro, atualizar-se sobre desafios e oportunidades e, de quebra, engrossar o coro do mercado global de seguros sobre as soluções disponíveis em suas gôndolas para prevenir ou mitigar os riscos dos extremos climáticos.

 

Dyogo Oliveira disse que a participação institucional nessas conferências do clima da ONU tem o objetivo final de incluir o mercado segurador (local e mundial) entre os protagonistas da agenda das mudanças climáticas e nas recomendações das declarações finais das futuras COPs, o que nunca ocorreu.

 

“O setor não só é capaz de suportar os danos extremos do clima ao proteger pessoas, patrimônios, negócios e a infraestrutura, mas também de oferecer expertise na gestão desses riscos a seus segurados para mitigá-los. Além disso, também está apto a alocar recursos garantidores em favor em projetos da economia verde”, assinalou.

 

Mesmo assim, queixa-se ele, até aqui a pauta das COPs dedica-se muito a questões do financiamento da transição econômica, mas pouco em indicar os pares capazes de promover tais práticas sustentáveis, como é o caso do seguro. Sua expectativa é de que, na COP30, que será realizada no Brasil, em novembro de 2025, o mercado segurador, finalmente, tenha suas potencialidades reconhecidas e indicadas para suavizar os danos climáticos.

 

NOVAS PARCERIAS

 

Dyogo Oliveira cita duas ações firmadas na COP29 em favor do gradual reconhecimento e participação do mercado segurador na agenda de mudanças climáticas.

 

Uma foi a adesão da CNseg ao Fórum para a Transição de Seguros para Zero Emissões Líquidas (FIT), iniciativa da ONU que apoia estratégias de seguros para uma transição econômica sustentável. A CNseg foi a primeira entidade a aderir a esse pacto, anunciado por Butch Bacani, líder da UNEP FI, durante o lançamento do guia sobre planos de transição no setor de seguros. Dessa forma, a CNseg foi destacada como parceira essencial na promoção de práticas sustentáveis no Brasil e globalmente.

 

Outra medida de impacto: a CNseg firmou uma parceria com o Centro de Resiliência Climática do Atlantic Council para promover o setor segurador como ferramenta essencial na adaptação às mudanças climáticas. Entre as medidas, a parceria planeja jogar luzes em práticas inovadoras do mercado nacional de seguros brasileiro, para replicá-las e suavizar os impactos climáticos. O Atlantic Council apoiará a CNseg no engajamento com atores e plataformas globais relevantes, como G20 e COP30. O memorando prevê a organização de agendas com atores regionais e globais de interesse do setor de seguros brasileiro.

 

Dyogo Oliveira destacou o papel do Atlantic Council no fortalecimento da presença internacional do setor segurador brasileiro, assegurando que ele dará enorme contribuição para inserir produtos do setor nos compromissos climáticos das COPs e acordos internacionais, uma lacuna ainda existente no cenário global.

 

“Teremos agora o Atlantic Council nos apoiando na identificação de atores e plataformas regionais e globais, incluindo aqueles relacionados ao G20 e à COP30, com os quais o setor segurador brasileiro precisa dialogar”, destacou.

 

Além do Dyogo Oliveira, esse painel da COP29 contou com a participação de Jorge Gastelumendi, diretor sênior do Centro de Resiliência Climática do Atlantic Council; Amy Barnes, head de Estratégia de Clima e Sustentabilidade da Marsh McLennan; Antonio Augusto Rebello Reis, sócio do escritório Mattos Filho; Thelma Krugg, pesquisadora do INPE e do IPCC; e Roberto Kishinami, executivo do Instituto Clima e Sociedade (ICS).

 

CREDENCIAIS

 

Desde já, olhando o acordo global de financiamento climático acertado na COP29 — serão US$ 300 bilhões por ano de repasses para países emergentes, valores considerados insuficientes por ambientalistas — as seguradoras em todo o mundo terão mais oportunidades e desafios para contornar ou remediar os danos potenciais dos extremos climáticos.

 

As credenciais do mercado brasileiro foram apresentadas pela CNseg em três painéis ocorridos no encontro de Baku, que reuniu líderes de governos, especialistas, setor privado e sociedade civil para negociar ações práticas e compromissos para baixar as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos climáticos.

 

As contribuições em prol de uma economia mais sustentável foram listadas nos painéis “Expansão do mercado de veículos eletrificados no Brasil: reflexos na indústria automotiva e no setor de seguros”; “O papel do setor de seguros na transição climática: de Baku a Belém”; e “Finanças sustentáveis: contribuições do setor privado para os compromissos brasileiros com o clima”.

 

O painel de veículos eletrificados e seus impactos para o desenvolvimento sustentável reuniu representantes do Governo e do setor privado para conhecer como o setor de seguros pode apoiar essa transição. O mercado segurador ainda dá seus primeiros passos de reconhecimento do potencial do novo nicho de mercado representado pelos carros eletrificados.

 

As seguradoras entendem que o carro elétrico tem diferenças significativas do ponto de vista de sinistralidade. Se danificar a bateria em um acidente, por exemplo, pode resultar em perda total. Também os reparos por perdas parciais são mais elevados do que no caso da frota a combustão, porque existe limitação de mão de obra e de oferta de peças. De qualquer forma, acredita-se que o crescimento da frota eletrificada ajudará a reduzir custos de reparo, ao eliminar gargalos na oferta de peças e de mão de obra especializada.

 

FROTA

 

A contribuição dos carros elétricos para a descarbonização é reconhecida. Apesar de um ambiente de negócios ainda desfavorável — falta de incentivos governamentais significativos, gargalos na infraestrutura e ausência de regulamentação específica — as vendas de veículos eletrificados deram salto no País. Até outubro de 2024, foram vendidas 140 mil unidades, 7,16% do total de vendas automotivas. Em 2023, foram outras 94 mil. Projeções indicam que as vendas de veículos elétricos leves poderão superar as de veículos a combustão, alcançando 1,5 milhão em 2030 e mais de 90% das vendas em 2040, revelou Igor Calvet, diretor-executivo da Anfavea.

 

O presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Vander Costa, acredita que prevalecerá um perfil de multitecnologia da frota brasileira, reunindo carros e ônibus elétricos e híbridos, ao lado de modelos convencionais. “A eletrificação já é realidade e pode ser solução para o transporte urbano no País, e o álcool pode ser melhor alternativa para os veículos que percorrem grandes distâncias”, concluiu.

 

O painel “Finanças sustentáveis: contribuições do setor privado para os compromissos brasileiros com o clima” reuniu representantes da CNseg, Febraban e CNI, encarregando-os de destacar as ações em curso pelas entidades empresariais.

 

A então diretora de Sustentabilidade da CNseg, Cristina Barros, ratificou que setor segurador pode ser um ator fundamental na agenda do mercado de carbono e da transição climática em prol da adaptação e da resiliência. Também lembrou que, apesar de responder, globalmente, por 1/3 das perdas por desastres climáticos, “o papel do seguro não é reconhecido pela Convenção do Clima.”

 

“E o que temos dito aos membros dessa Convenção, via Brasil, é que considerem o seguro para responder à emergência climática à qual o País está exposto. Nesse instrumento da adaptação, temos um caminho a traçar, que começa aqui na COP e tem desdobramento em casa, a partir da construção de pontes que a CNseg começa a sinalizar para o Governo, Ministérios e várias outras entidades”, Mediador do painel, o diretor de Políticas de Mitigação, Adaptação e Instrumentos de Implementação do Ministério do Meio Ambiente, Aloisio de Melo, afirmou que “o diálogo entre o setor privado e o Governo Federal é fundamental para continuar posicionando o Brasil na liderança da agenda verde.”
O setor financeiro, representado pela Febraban, tem participado dessa agenda socioambiental desde 2008, incluindo a taxonomia verde desde 2015. Agora a tarefa tem sido a de engajar os clientes para a agenda de taxonomia e se tornar carbono zero. “O Brasil pode ser um hub de soluções climáticas. São US$ 3 trilhões no mundo com possibilidade de arrecadação nos próximos anos. Precisamos de políticas de médio e longo prazos e investimentos consistentes. Temos feito a lição de casa como mercado e como Governo”, disse o executivo da Febraban, Amauri Martins.

 

Já a CNI, representando cerca de nove mil estabelecimentos industriais, tem uma estratégia muito bem definida para transformar as vantagens comparativas do Brasil em vantagens competitivas. “A nossa estratégia é baseada na implementação de diversas ações em transição energética, economia circular, mercado de carbono e bioeconomia e conservação florestal”, disse David Bontempo, da CNI.

 

Por fim, no painel “O papel do setor de seguros na transição climática: de Baku a Belém”, foi destacado que mercado de seguros global respondeu por 35% das perdas globais ocorridas no ano passado — de mais de US$ 300 bilhões. Mas as lacunas de coberturas podem ser menores se houver mais conhecimento dos produtos de seguros existentes para mitigar os riscos intensificados pelo aumento de eventos climáticos extremos. Logo, quanto maior for o entendimento dos organismos multilaterais e governos locais sobre a importância dos seguros, mais dias melhores haverá para a Humanidade.